Amar, verbo TRANSGRESSOR!


Eu tenho vários dicionários mas nenhum com palavras competentes o suficientes para me definir essa revolta toda que carrego em veias no peito. Digo peito mesmo, porque quem dele fala, fala do leite que tomou, mal ou bem agradecido. Fala também dessas tripas todas que se enroscam entre ossos, desse agitar compassado, do sangue que circula e de toda essa pequena-gente que me mora e que nem sei o nome: amigos pequenos, senhores da minha hora final. Enfim, toda a vez que olho para a minha prateleira só encontro preguiça de quem não viveu metade do que escreveu. Não que eu te desmereça, meu genial amigo defunto, mas convenhamos, que preguiça! Nietzsche era o pequeno-Rilke, e quem adoram mais?

Por isso hoje vou cuspir na tua cara, e a minha saliva carrega o gosto do meu beijo. O lábio que escorre tudo isso é a minha carne, vermelha, como bandeira. Meu dente é branco-amarelado e tem remendo, de tanto doce que comi. A língua é o fim da frase, que nasce na garganta, túnel do grito, ela também vermelha. Tudo dentro de mim é dessa cor: basta me virar do avesso. E é justamente disso que estamos falando, do contrário de tudo. Do inverso do verso, da poesia que se mete a ser prosa, sem medo. Da bandeira hasteada, da passeata, da placa de PARE (ou não). Do sinal, de outubro de 17, do cartão de junho. Estamos falando da nova América Latina, américa minha e tua, de índios, negros e nenhum branco, que branco nunca existiu. Enfim, estou falando do vermelho, e também do coração.

Como te disse, palavras são preguiçosas. Mas quando cantamos o hino, a mão vai onde? E quando vem a dor, onde ela vai? E quando não há mais dor, que é o amor... e aí? A geografia da nossa anatomia... seria capricho ou piada que a sede do sangue (vermelho) seja no lado esquerdo do peito, sede da primeira sede? A esquerda é sinistra, e eu adoro mistério! A direita faz tudo certo, mas eu sempre tive a letra feia. Alguma coisa está errada então, mas, na dúvida, troquei de lápis... e de mão!

Estou sim chateado, chateado com o meio-termo. Conciliar é bonito na vara de família, mas seria bom nem precisar ir lá, não é mesmo? E como isso? Radicalizando! Sendo ortodoxo até o miolo do pão! E como isso? Ah, eu só sei um caminho: pela esquerda!

Sim, abra os braços, Miguel-ângelo. Abrace o mundo, que é você também, e não tenha vergonha dos braços curtos de início ou da timidez de quem não sabe o que é afeto. Abrace! Depois beije, mas beije com a vontade de respiração boca-a-boca, porque não se iluda: há muito quase-cadáver por aí, se há! Gente que está morrendo porque está na beira-de-qualquer-caminho, e não na estrada. Gente que deixaram à margem, gente que deixaram, e continuam a deixar. Gente que se deixou porque achou mais fácil ficar. Enfim, abra os braços Miguel e seja anjo daquele pouquinho de gente que é o teu derredor, e te digo, já fizeste tudo. Mas tudo mesmo.

Esse é o caminho, Miguel, esse é o caminho. Essa é a nova-esquerda que andam procurando lá em Sorbonne. Michel Löwy, Jacob Gorender, Frei Betto e a escola paulista. José Paulo Netto, Emir Sader, a UERJ, a Unicamp, enfim. Todos eles são nomes louváveis, mas não se engane: conservadores! Todos eles! Direita, dessa direita ainda presa a repetir as fórmulas e fumar os restos do charuto do Fidel. A nova-esquerda é a única-via, porque é declaradamente expressa: vai dar direto no coração. Sim, porque nascemos à esquerda. Nascemos sinistros, tortos, e desajeitados, com cara de joelho. Mas com o tempo, as coisas foram se esquerdeando em nós, fomos ficando cada vez mais radicais e intransigentes com tudo que cheirasse a... bem, resto de charuto!

O caminho da esquerda é o caminho de quem adota viver pelo que é precioso na vida: AMAR! Sim, antes de ser verbo intransitivo, o amor é transgressor. Ele não respeita a barreira da civilidade empoada e vai bater lá na casa de quem dorme no chão. Ele não anda de carro importado ou nacional, ele voa, que é filho de pássaro grande. Não respeita gramática: TE amo é como começa tudo, obliquamente. O AMOR, em maiúsculas, é o novo-conceito da velha-escola de sempre daqueles que fizeram a escolha de VIVER. Nem Hegel, nem Marx, nem ninguém: tudo metade! Amar: o novo inteiro.

É um silogismo fácil de entender: o coração é inquilino do lado esquerdo do peito, logo, o amor veste vermelho. Quem ama abraça e quem dá o braço dá o esquerdo. Quem levanta o pulso, canta um hino diferente, e grita na rua uma canção nova, que fala de coisas antigas. Os verdadeiros revolucionários de ontem e hoje são todos bardos e, altos brados, expuseram sem medo a morte do peito vazio, lado direito. Transgressores, riram da faca afiada e beijaram a mão no martelo de suas sentenças.

Revolução doce, revolução do beijo. Revolução do carinho, revolução do eu-me-importo-sempre. Revolução da boca, das tripas sinceras e do tudo preenchido. Todos os que se colocam sob essa nova bandeira, vermelha ainda, colocam-se não sob o peso do sangue dos que pensam diferente, mas na tutela da democracia do coração. O vermelho não é a cor daquilo que se derrama, mas do que circula dentro de todos nós. Cor velha do novo-mundo, bandeira dos novos-radicais e flâmula dos cavaleiros da nova-ortodoxia. Mundo-um, inteiro. Partido Político dos de Coração. Anti-Igreja Universal dos Despossuídos da Necessidade de Religiões no Plural.

Chega a aurora: vermelha. Chega, porque teimaremos até o fim. Amaremos em todas as conjugações possíveis. Revolucionários ATÉ a última hora, não descansaremos. Invisíveis ou visíveis, o mundo nos pertence.

Viva o amor, o amor não morreu!

4 Comentar?:

Lôra Flor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Glayce Santos disse...

Só para informar que atualizou! \o/

Amo Maná!

Anônimo disse...

if you see her, say hello
she might think that ive forgotten her dont tell her it isnt so
(porra, alguém tem que contrabalancear em amargor o pedaço, ME DEIXA)

Anônimo disse...

Não...hehehe
Estava, mas agora não está mais!
Foi lá pro ultimo blog add de novo! =/

O seu teemplate é do blogspot?