[do arremesso]

(Foto: Minha-com-algo-dela)



Cansei de tua conversa velha, de tua mania de cidade antiga, que vive escorada em beleza de andaime e pedra amarrada.
Cansei de todo esse riso defumado em hálito fútil, desse dente amarelo exposto, monumento à costumeira trivialidade.
Cansei do perfume da tua irmã, da blusa do teu irmão, dos discos dos teus pais e do suposto eruditismo de alcova.
Cansei da tua cultura clássica dos teriaki de ontem e hoje e a sua genialidade de eterna-festinha.
Cansei de ti, e de todos os que, iguais a ti, vão pede titubante a tropeçar constantemente na mesma calçada baixa.
Cansei de toda essa tua singela balela, sutil e perigosa como a mão de Cleopatra, a desavizada furta-figos.
Cansei dos teus abraços e dos amistosos tapinhas entre adagas e beijos.

Cansei de ti, cansei
Cansei de mim, também
E de nós insatisfeito, vou procurar um outro eu
Qualquer coisa que não seja você

Alguém de gigantesco pulmão
E fôlego de mergulhador
Para que esta fadiga
Nunca mais me ataque.

Palavra de escoteiro
Que ontem mesmo vou me matricular
Em uma academia
O mais longe de casa
Para que no caminho
Eu tenha mais tempo para pensar
No caminho que tive que passar
E no tempo que estive tão
Cansado.

Palavra de escoteiro
Que amanhã eu acordo cedo
E descansado.

Adeus
Porque quem diz já-fui não deixa meio termo
Vai.

Fui.

[Do implícito.]

(Foto: Minha-do-mon-jardin)



(On s'accoutume au mal que l'on voit sans remède.)

Parecia fácil ser agredido.

(Allez, Muses, partez. Votre art m'est inutile;)

Todavia, no final, dói o não dito.

(Sur les lèvres toujours on a quelque promesse!)

Parecia fácil pular o início

(Ignorés et contents, un silence tranquille)

Todavia, no final, dói o não dito.

(Son esclave fidèle et son fidèle amant.')

Parecia fácil acorrentar o imprevisto

(Le vent a dissipés parmi de vains nuages!)

Todavia, no final, dói o não dito.

(O honte! A deux genoux j'exprimais ces alarmes;)

Parecia fácil tapar os ouvidos

(Avec de tels discours, ah! tu m'aurais fait croire)

Todavia, no final, dói o não dito.


[Impronunciável]
*******


(Parece-nos fácil...)

Non, je ne l'aime plus; un autre la possède.

(Todavia, ao final...)

Près d'elle je voulais vous avoir pour soutien.

(Parece-nos fácil...)

Et puis... Ah! laissez-moi, souvenirs ennemis,

(Todavia, ao final...)

Épiera ses désirs, ses besoins, sa pensée.


*******


(Guarda-te de mentir...)

Ou mesmo de sorrir.

(Que por agora...)

Aquela outra-hora, é tudo o que não temos

(Guarda-te de ti...)

Ou mesmo de mim.

(Que por agora...)

Tudo o que queremos, é coisa pouca, ou morta.

(Guarda-te...)

Eu cuido de me proteger.

(Que pode não ser por agora...)

Mas célere chega, em abre-porta.


*******


Guarda-te...
Eu me guardo...
Aguardemos...
o tempo...
pacientes e...
avisados...

(Que de fois je t'ai dit: 'Garde d'être inconstante,)
(Le monde entier déteste une parjure amante;)


*******

[pausa] Para além do Hip e do Hop.


Bem, a gente inteligente que eu costumo escutar não recebe com muito entusiasmo quando eu digo que gosto de Hip-Hop. Gosto mesmo. Conheço tanto a old quanto a new school: Run-DMC, passando por Poor Righteous Teachers, Public Enemy, até as porcarias modernas (raras exceções) que não cantam mais coisas como "Fight the Power", como os "rappers" da hora da MTV. Com exceção de gente como o Tupac Shakur (2pac), pouco se salva num meio, que infelizmente, responde genericamente por "música negra americana".

Michael Jackson, a promessa do pop dos 80, a nossa "Madonna", é hoje em dia motivo de piada. Temos o Jazz, o Blues, e toda uma New Orleans musical que ainda resiste bravamente. Mas tais gêneros são como a cozinha da vovó: sempre dão certo quando que se mantém a receita original. Uma Norah Jones ou Ami-Casa da Cachaça Braba que sejam têm por trás delas toda uma tradição que , por ser inesgotável, se repete sem causar tanto estranhamento. Não nego o valor dessa música, mas eu sinceramente gosto de ver o novo aparecer.

Foi aí que, numa dessas noites pelo Youtube eu encontrei esse rapaz: Tay Zonday. Quando ouvi a primeira vez, dei a atenção que todo mundo dá aos vídeos do youtube: procurei a graça ou o esquisito da coisa. Como não achei de imediato, já ia rotular de chato, quando resolvi conferir com mais cuidado, e tomei um espanto que me fez estar aqui, escrevendo. Ele é um rapaz de Minneapollis, 25 anos, que tem um Yamaha muito legal, conhecimentos musicais e um excelente gosto para a experimentação, além de uma voz DO CARALHO. Eu primeiro pensei que a voz dele fosse sintetizada, de tão absurda que é, mas depois de ir ao sitie oficial dele (http://www.tayzonday.com/) eu descobri que é coisa do capeta mesmo. Sinceramente, quem já estudou um pouco de teoria musical e lembra das aulas de solfejo, fica imaginando como devia ser divertido para ele ver a cara dos professores quando ele chegava e só mandava um "good morning sir" em terça-das-mais-menores.

Eu tentei encontrar uma definição para ele: voz de Louis Armstrong-negro-voz-tora-dos-anos 20, com o talento de experimentação do Prince, Bowie e Beck juntos e melhorados (!) e caras e bocas que o Billy Idol gostaria de fazer. Aliado a tudo isso, um conhecimento e senso crítico muito apurados, além de uma leitura pessoal interessante do "lugar do negro" não só na música atual, como na história recente dos direitos civis americanos (vejam o vídeo "Dreaming of Uhura", que além da voz de 'locutor que anuncia o fim dos tempos e te deixa calmo com isso', é muito interessante pela análise 'declamada').

Posso estar exagerando, mas é do ofício. De qualquer maneira vale a pena demais dar uma conferida em "Exploded", "Chocolate Rain", ou nas "leituras" dele, só por delírio de capela. Espero sinceramente que esse rapaz se alie com gente experiente do ramo da música alternativa boa e amplie esse dom natural que ele tem para buscar algo para além do hip-hop (Como é o caso de "Crash Into Weird") quem sabe, tirando um pouco as bundas e colares de cifras da cabeça desse povo que tanto fez pela cultura negra mundial, mas anda por demais esquecido, deixando-se levar pela mídia de massa-burra da "colored" TV norte-americana.