Vênus em Escorpião: O vídeo.

Vênus em Escorpião: Um Manual



Teve um dia que você foi dormir e acordou com uma certeza deitada do teu lado da cama e que disse bom dia levantou foi fazer o café e quando você desceu viu ela sentada na cozinha lendo o jornal com cara de sempre tô por aqui.com é isso mesmo tá estranhando o que misturado com um sorriso de canto de boca que você não sabe de onde mas sabe que é assim mesmo o café tá sem açucar adoçante não obrigado pão com presunto mesmo tô atrasado pro serviço mas acaba ligando e desmarcando os compromissos porque ela tá ali e se deu todo esse trabalho não custa nada é um dia só alô chefe tudo bem estou com uma gripe acordei indisposto e com peso extra na cama não sei acho que foi alguém que eu comi vai saber não sei só sei que tô meio assim mesmo tá certo amanhã eu fico até mais tarde meu relatório tá pronto sim passar bem e quando desliga o telefone ela faz um comentário inteligente que soa dentro da tua cabeça como uma revelação com sabor de hierofania diária ela é bonita papai que vontade de morder é tudo que você responde para ela com os olhos porque ela é como aquele trecho do discurso do Obama que ela mandou pendurar no teu sonho que era ontem porque hoje é ela dessa materialidade de presentinho de Zeus que se levanta sai da cozinha senta na sala e fica ali com jeito de almofada onde você coloca a cabeça e se pergunta quanto foi o jogo de ontem mas ela já sabe a resposta porque viu naquele jornal que ela tava lendo e você não porque você não tinha tempo para essas coisas até redescobrir ela numa dessas páginas que o vento da vida sopra da mão teimosa que gosta de ficar procurando aforismo em conversa velha coisa chata não dá de entender mas a gente faz e por fazer acaba sendo besta mas dia vem que acorda com a certeza do lado como falei e tudo muda inclusive o endereço da tua correpondência que agora é rua Sr e Sra tudo junto falta só o coraçãozinho no meio o correio não deixa o srsra vai me desculpar mas eu entendo amor tem dessas coisas chegou o cd com a musica toca no som é Vinícius dizendo que tua a vida é arte do meu encontro, enquanto, encanto, entre, sempre

Você fez esforço nenhum de esbarrar em mim e não pedir desculpas precisou de menos de dia para ir embora e mais de ano para voltar sei lá tava onde eu não sei demorou eu achei na época que fosse nada demais fiquei ali brincando de metade com os outros durante o tempo que não era você coisa chata vou te falar porque eu vou te falar peraí tô pensando calma eu vou te explicar direitinho porque li teu mapa e lá diz olha toma cuidado que ela é assim mesmo tudo bem eu sei que você é o que é mas quem não gosta de um xamego é bobo e boba você não é que te acho bem esperta tanto que no meu sonho quando ainda não era você eu sempre recitava aquele poema difícil pedacinho dele só para te ouvir dizer o resto e eu ria bobo porque tinha encontrado meu poema metade que é complicada pra cacete vou te falar meu amigo que trabalho ela me dá ela eu digo que gosto ela reclama eu digo que quero bem ela quer saber porque eu abraço ela pula eu beijo ela eu só assim vou te dizer adoro arredia selvagem delicada profunda única preciosa valiosa feita à mão esculpida por papai meu chapa e mamãe minha querida grato que sou como grato devia ser todo mundo a quem te dá um presente que dura o natal que dura a tua vida, toda, com, ela, sempre

Era isso que tinha para te dizer e não encontro jeito melhor que não seja assim e também acho mais coerente até pra evitar burburinho de final de aula eu tenho vênus em escorpião gosto demais gosto muito gosto verticalmente dentro e quando a coisa vem vem assim mesmo atropelada tomando espaço e me despertando do sono que era e não era com você é que eu sei que tá tudo bem obrigado com açucar sal e os gols da rodada só golaço que 0x0 só acontece em partida de mentirinha quando nenhuma das partes parte para o ataque fica aquela retranca eu não sei você tá por lá eu tô por aqui vamos com calma no dos outros que pros meus olhos encrenca pouca é bobagem gosto do difícil mesmo, gosto de você, mas

Se está difícil acompanhar, tudo bem: vamos com calma. Pingo aqui, pingo ali, pingo no ï que precisar. Falei de mim mas sei quem tem o ti aí. A certeza é minha amiga, e eu sou o seu. Minha amizade vem junto no mesmo pacote das coisas sentidas. Eu me conheço e não conheço outro jeito que gostar que não seja a sinceridade radical da notificação da entrega da alma. Eu a partir de hoje não respondo mais pelos exageros, somente pela prática consciente do afeto totalmente desmedido. 

Mas se mesmo assim estiver difícil, vamos lá prestar o respeito à astrologia:

Eu te amo, Querida.


E isso é tudo.

Salve Jorge



Eu avisei, em outro momento, que o mundo é redondo, nada oco, com recheio de terra e tinta azul. Disse também que longe é sinônimo de não tardo, que tô logo ali, basta dormir. Alertei para a incoerência de achar tudo sem querer dar nada, de não esperar e querer que eu volte. Falei do que tinha dentro, do que via fora, e até do que não entendia. Fiz macarrão de madrugada para esperar que chegasse a musa daquilo que queria te dizer. E apesar de tanta cerimônia, e falta dela, você não acreditou... e agora, depois do fantasma a certeza: no more talk of darkness.

Só quem abraçou um timão sabe da alegria de dia de verão. Só quem viveu anos no escuro de si mesmo aprende a valorizar a luz que chega no sorriso que cruza o mar. Só quem ficou surdo de tanto que gritou aprecia o silêncio macio que ecoa na tua voz, cotonete do túnel da alma. Ter-te, mesmo que em esperança, sinônimo de futuro, é melhor que brigadeiro, ou lagosta. Como é bom todos os dias não ter certeza de nada, desse mistério de óleo de linhaça que banha o que está por vir. Mil vezes a ignorância de amanhã, com o seu susto de estou chegando, do que essa falsa alegria do lá e aqui. Não me resta nada agora, a não ser sorrir, com esse sorriso bobo de quem vê a porta se abrir sozinha.

Não é o momento de falar da minha luta, do meu sangue, da espada nua e da calçada. Não é mesmo momento de cantar o Bojador, nem mesmo rir da dor. Não é a hora de parecer soberano, de rir do encanto do "eu te disse". Naaaada disso. Eu quero mesmo é ficar calado, nesse quietismo estético de terceiro andar. Eu me contento com a janela aberta, com o vento e com o inverno que, subitamente,  deixou de ser frio. Tudo que quero é pingar café no jornal, e nesse espetáculo de gota escura, prestar minha reverência ao não dito, ao ainda não vivido, e ao que está por aí, que apesar de aportar em duas semanas ou três, ainda é caminho.

Seria incoerente pensar diferente agora, eu que gritei junto como velho no Restelo: Trípoli acabou se mostrando meio pedaço de chão entre onde estou e o de onde vieste. E para todo mundo que me esperava Marco Polo com a bolsa cheia de fogo de artifício, eu acabo sendo um embuste: eu gosto mesmo é de fitar o mar, de preferência de noite, quando ele tá quentinho. 

Não, eu não abandonei o exagero, mas guardo ele para a hora certa: mão na outra, cabelos e o enterro da palavra. Sou Alexandria por dentro, farol-em-olho de tua embarcação. Mas dessa luz suave de cobertor grande em cama pequena para nós dois: não discrimina nem mesmo dedo mindinho, por miudinho que seja.

Cá estou e esse meu ofício: sigo vigia.  Semanas para a promoção e tudo o que tenho a dizer aos colegas de profissão é meu muitíssimo obrigado. Mas agora, com vossa licença e a benção de Jorge, en sha Allah, vou em frente.

Salve!

Mais uma Canção


The weight of the world
is love.
Under the burden
of solitude,
under the burden
of dissatisfaction

the weight,
the weight we carry
is love.

Who can deny?
In dreams
it touches
the body,
in thought
constructs
a miracle,
in imagination
anguishes
till born
in human--
looks out of the heart
burning with purity--
for the burden of life
is love,

but we carry the weight
wearily,
and so must rest
in the arms of love
at last,
must rest in the arms
of love.

No rest
without love,
no sleep
without dreams
of love--
be mad or chill
obsessed with angels
or machines,
the final wish
is love
--cannot be bitter,
cannot deny,
cannot withhold
if denied:

the weight is too heavy

--must give
for no return
as thought
is given
in solitude
in all the excellence
of its excess.

The warm bodies
shine together
in the darkness,
the hand moves
to the center
of the flesh,
the skin trembles
in happiness
and the soul comes
joyful to the eye--

yes, yes,
that's what
I wanted,
I always wanted,
I always wanted,
to return
to the body
where I was born. 




- Allen Ginsberg

Dejà Touché


Eu queria saber um jeito mais simples de complicar as coisas, de contar para 2009 tudo que contei para 2008. De dar risinho de banda, de apagar nome do celular. De deletar o orkut, msn, escrever carta à mão e só assinar recibo. De não aparecer em foto nem saber nome de monumento. É... queria isso tudo sim, e queria desse querer que a gente tem por ficar confuso quando pensa em ti.

Tô loco não fia. Antes eu fosse frase feita, punho do Machado. O problema (porque para a física moderna, ainda é um problema) é esse tal do te-querer-bem. Explico: tô gostando de ti pra caraças, tais a saber? O problema (ele, ainda) nem é esse (não?), o problema (ah..) é que isso é verdade de quadro-negro: fica lá, quase fórmula, variável, noves fora. Sem problema (hã?), pensei comigo, rasgo a toga, tiro a roupa, me jogo na cama e faço peso em cima de ti, 83 kgs de verdade nua e crua: eu te amo. Legal é assim, porque quem cuida, sua. Mas aí, vi que o problema (dela?) não era falta de giz, nem de roupa, mas de boca: quem tem, vai, ou devia ir, ao menos, mais.

Marcha-ré na caravela, dos panos não bebo os vinhos, foimaussouromano.com. Sim meu bem, sou total a favor do desassombro, e não me impressiono com filosofia de parquímetro. Tô aqui mesmo, e aqui não é nada mais que esse lugar que me elegeu para me dizer algo que eu ainda não escutei porque confundia letrinha. Distância é mentira de olho, que é redondo mas não tem essa sabedoria de bola, que é o mundo. 

Por isso, foi só não escutar tua voz, foi só tu me dares o ensejo de praticar a imaginação (essa vilã, sede da metafísica), que num passe de mágica coração saiu nadando. Nada enxuto foi se esparramar ao teu lado. Escutou o cheiro das tuas palavras, anotou o gosto do teu "querido" e veio de volta em vôo fretado, que tá frio, dá licença, inverno aqui é coisa séria. Chegou rindo e tá até agora ali no sofá, com jeitinho de almofada de veludo.

Mas, apesar de não pesar, tens essa tua mania esquisita de matéria obrigatória: estatística aplicada ao que criatura? Sejamos irrazoáveis s'il vous plaît. Quando não é isso, é essa coisa de verão em Harvard: sempre um riposte, sempre um deboche no gramado das pequenas coisas que eu plantei para a gente rolar por cima. Tudo que eu queria era pensar em leite quente, lua, nua. Tu achas divertido ficar brincando com brincadeira séria. Confabula sozinha, faz tabuada, e depois de se confundir todinha com o simples, volta para casa sozinha, confia no tempo (pouco) e fica me dizendo louco, eu, logo eu que não faço a mínima questão de tanta questão.

Pensar em ti é uma das partes boas do dia, tanto que em vez de descer em picadilly fui bater lá depois de green park, que eu achava ser a porta da tua casa, cemitério do tá longe. Penso com a parte boa das tripas, e com as danadas também, que sou filho de plutão, aqui tá frio, pensar esquenta, dá licença, obrigado. 

O que me resta por agora é isso. Sei que achas um tanto de coisas de mim, mas isso tudo é porque não encontraste em mim o que, em verdade, está contigo. Não tenho nada melhor para oferecer senão meu respeito, meu carinho e minha adoração silenciosa. Como mármore velho, eu só pareço estar fitando o nada. Tenho você aqui, e apesar de morena, vou te dar essa chance.

No mais, dê um abraço no futuro quando o ver de novo. Aproveite e dê também um beijo, uma banda e uma cama: eu vou adorar.

Xêro e até daqui a pouco.

Atherton Road to Everywhere

foto: nossa, the tower bridge



(...)
Above all ryvers thy Ryver hath renowne,
Whose beryall stremys, pleasaunt and preclare,
Under thy lusty wallys renneth down,
Where many a swanne doth swymme with wyngis fare;
Where many a barge doth saile, and row with are,
Where many a ship doth rest with toppe-royall.
O! towne of townes, patrone and not-compare:
London, thou art the floure of Cities all.

Upon thy lusty Brigge of pylers white
Been merchauntis full royall to behold;
Upon thy stretis goth many a semely knyght
In velvet gownes and cheyn{.e}s of fyne gold.
By Julyus Cesar thy Tour founded of old
May be the hous of Mars victoryall,
Whos artillary with tonge may not be told:
London, thou art the flour of Cities all.
(...)
- William Dunbar