Salve Jorge



Eu avisei, em outro momento, que o mundo é redondo, nada oco, com recheio de terra e tinta azul. Disse também que longe é sinônimo de não tardo, que tô logo ali, basta dormir. Alertei para a incoerência de achar tudo sem querer dar nada, de não esperar e querer que eu volte. Falei do que tinha dentro, do que via fora, e até do que não entendia. Fiz macarrão de madrugada para esperar que chegasse a musa daquilo que queria te dizer. E apesar de tanta cerimônia, e falta dela, você não acreditou... e agora, depois do fantasma a certeza: no more talk of darkness.

Só quem abraçou um timão sabe da alegria de dia de verão. Só quem viveu anos no escuro de si mesmo aprende a valorizar a luz que chega no sorriso que cruza o mar. Só quem ficou surdo de tanto que gritou aprecia o silêncio macio que ecoa na tua voz, cotonete do túnel da alma. Ter-te, mesmo que em esperança, sinônimo de futuro, é melhor que brigadeiro, ou lagosta. Como é bom todos os dias não ter certeza de nada, desse mistério de óleo de linhaça que banha o que está por vir. Mil vezes a ignorância de amanhã, com o seu susto de estou chegando, do que essa falsa alegria do lá e aqui. Não me resta nada agora, a não ser sorrir, com esse sorriso bobo de quem vê a porta se abrir sozinha.

Não é o momento de falar da minha luta, do meu sangue, da espada nua e da calçada. Não é mesmo momento de cantar o Bojador, nem mesmo rir da dor. Não é a hora de parecer soberano, de rir do encanto do "eu te disse". Naaaada disso. Eu quero mesmo é ficar calado, nesse quietismo estético de terceiro andar. Eu me contento com a janela aberta, com o vento e com o inverno que, subitamente,  deixou de ser frio. Tudo que quero é pingar café no jornal, e nesse espetáculo de gota escura, prestar minha reverência ao não dito, ao ainda não vivido, e ao que está por aí, que apesar de aportar em duas semanas ou três, ainda é caminho.

Seria incoerente pensar diferente agora, eu que gritei junto como velho no Restelo: Trípoli acabou se mostrando meio pedaço de chão entre onde estou e o de onde vieste. E para todo mundo que me esperava Marco Polo com a bolsa cheia de fogo de artifício, eu acabo sendo um embuste: eu gosto mesmo é de fitar o mar, de preferência de noite, quando ele tá quentinho. 

Não, eu não abandonei o exagero, mas guardo ele para a hora certa: mão na outra, cabelos e o enterro da palavra. Sou Alexandria por dentro, farol-em-olho de tua embarcação. Mas dessa luz suave de cobertor grande em cama pequena para nós dois: não discrimina nem mesmo dedo mindinho, por miudinho que seja.

Cá estou e esse meu ofício: sigo vigia.  Semanas para a promoção e tudo o que tenho a dizer aos colegas de profissão é meu muitíssimo obrigado. Mas agora, com vossa licença e a benção de Jorge, en sha Allah, vou em frente.

Salve!

0 Comentar?: