[pausa] Para além do Hip e do Hop.


Bem, a gente inteligente que eu costumo escutar não recebe com muito entusiasmo quando eu digo que gosto de Hip-Hop. Gosto mesmo. Conheço tanto a old quanto a new school: Run-DMC, passando por Poor Righteous Teachers, Public Enemy, até as porcarias modernas (raras exceções) que não cantam mais coisas como "Fight the Power", como os "rappers" da hora da MTV. Com exceção de gente como o Tupac Shakur (2pac), pouco se salva num meio, que infelizmente, responde genericamente por "música negra americana".

Michael Jackson, a promessa do pop dos 80, a nossa "Madonna", é hoje em dia motivo de piada. Temos o Jazz, o Blues, e toda uma New Orleans musical que ainda resiste bravamente. Mas tais gêneros são como a cozinha da vovó: sempre dão certo quando que se mantém a receita original. Uma Norah Jones ou Ami-Casa da Cachaça Braba que sejam têm por trás delas toda uma tradição que , por ser inesgotável, se repete sem causar tanto estranhamento. Não nego o valor dessa música, mas eu sinceramente gosto de ver o novo aparecer.

Foi aí que, numa dessas noites pelo Youtube eu encontrei esse rapaz: Tay Zonday. Quando ouvi a primeira vez, dei a atenção que todo mundo dá aos vídeos do youtube: procurei a graça ou o esquisito da coisa. Como não achei de imediato, já ia rotular de chato, quando resolvi conferir com mais cuidado, e tomei um espanto que me fez estar aqui, escrevendo. Ele é um rapaz de Minneapollis, 25 anos, que tem um Yamaha muito legal, conhecimentos musicais e um excelente gosto para a experimentação, além de uma voz DO CARALHO. Eu primeiro pensei que a voz dele fosse sintetizada, de tão absurda que é, mas depois de ir ao sitie oficial dele (http://www.tayzonday.com/) eu descobri que é coisa do capeta mesmo. Sinceramente, quem já estudou um pouco de teoria musical e lembra das aulas de solfejo, fica imaginando como devia ser divertido para ele ver a cara dos professores quando ele chegava e só mandava um "good morning sir" em terça-das-mais-menores.

Eu tentei encontrar uma definição para ele: voz de Louis Armstrong-negro-voz-tora-dos-anos 20, com o talento de experimentação do Prince, Bowie e Beck juntos e melhorados (!) e caras e bocas que o Billy Idol gostaria de fazer. Aliado a tudo isso, um conhecimento e senso crítico muito apurados, além de uma leitura pessoal interessante do "lugar do negro" não só na música atual, como na história recente dos direitos civis americanos (vejam o vídeo "Dreaming of Uhura", que além da voz de 'locutor que anuncia o fim dos tempos e te deixa calmo com isso', é muito interessante pela análise 'declamada').

Posso estar exagerando, mas é do ofício. De qualquer maneira vale a pena demais dar uma conferida em "Exploded", "Chocolate Rain", ou nas "leituras" dele, só por delírio de capela. Espero sinceramente que esse rapaz se alie com gente experiente do ramo da música alternativa boa e amplie esse dom natural que ele tem para buscar algo para além do hip-hop (Como é o caso de "Crash Into Weird") quem sabe, tirando um pouco as bundas e colares de cifras da cabeça desse povo que tanto fez pela cultura negra mundial, mas anda por demais esquecido, deixando-se levar pela mídia de massa-burra da "colored" TV norte-americana.

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