Verkaufsschlager


Nós, homens do conhecimento, não nos conhecemos, de

nós mesmos somos desconhecidos - e não sem motivo.
Nunca nos procuramos: como poderia acontecer que
um dia nos encontrássemos? (...) Nosso tesouro está
onde estão as colméias do nosso conhecimento. (...)
Nas experiências presentes, receio, estamos sempre
"ausentes": nelas não temos nosso coração.

(Muito foi dito e conversado esse tempo todo que passou. Todo mundo tem a resposta daquilo que diz respeito só a ti. Facilmente tira-se do bolso a resposta dos teus problemas, e rabisca-se no guardanapo o número-chave que vai te arrancar do ali-ausente. Ah! - gritou o português de antanho - nunca conheci quem houvesse levado porrada. Cruz na porta da tabacaria dos outros é o refresco do não aconteceu comigo. Poisé meus amigos, campeões em tudo, peço licença para a minha vileza)

(Aceita um aviso? Saturno chega para todos. Sei que estou soando rabeca perto de violino, mas melodia não respeita números. Quer outro nome? Chame de crise dos 25, ou depois, crise da meia idade. Chame do que quiser, o deus é meu eu que me resolvo com ele, apesar de ter endereço em outra pedra. Todavia, um dia, deitado na tua cama, ensopado de um suor que não é teu, vais querer abrir a janela para tomar aquele vento, refrigério da consciência. Se for noite sem lua, contemplarás deuses e astros e dirás "E eu com isso?". Talvez ria, alto, para abafar o som do panteão em órbita, do anel que gira e te mira com o olho dos que esperam. Entre-tanto riso, contigo não vai ser diferente: será alta noite quando o deus chegar em tua porta. Ele vai te carregar no colo com todo o cuidado e vai te deixar exatamente no centro daquilo que tu vens construindo. Dali para frente, mein freund, a encrenca é tua, e só sua)

(Por isso e por agora é fácil ter resposta para o que os outros passaram. É fácil pedir a morte daquele que é tão igual a mim e a você, e que foi tão diferente, porque assumiu para o mundo que estava louco do afeto que não entendia. A sociedade em nós, o "espírito de turba" que o francês categorizou, nos enche desse bom senso fácil, do dedo que aponta, da máxima que degreda. Gostamos de atirar na lata de lixo da vida todos aqueles que ousam aparecer em enfusões daquilo que mais tememos mais sabemos que também está dentro de nós. Há quem não tenha cometido uma loucura por "amor"? Existe essa criatura que não sofre quando assunto pula para fora da caneta e vem cobrar tinta dos teus órgãos mais vitais?)

(Pelo visto você sabe a resposta de tudo, e você, champ, nunca fez a burrada de gostar. O que eu digo não se aplica a você, e eu mais uma vez perco meu tempo com minha mania de fazer filosofia em muro alheio. Picasso não pichava mas nunca teve o gosto de experimentar uma contravenção. Já de mim, assumo-te: fiz e vou continuar pecando. Por que? Ora meu amigo, aguardam-me no país da fleuma, mas vou morar em cima do pub: eu sempre gostei do paradoxo e não enfrento problemas com dicotomias. Sei que no final mostro minha verve marxista e sintetizo tudo de uma forma que deixaria pasmo até você, a eterna gestante de um conhecimento que nem mesmo inglês quer ver)

(E já que estamos falando da Alemanha, eu te deixo outra sugestão: a única coisa que levamos daqui é a lanterna que Diógenes nos brinda quando ao final do tudo posto. Cinismo não é comédia de pseudo-sábio, é a recusa do costumeiro. Certo que tudo é moda, e deixe isso de ser diferente para teus filhos adolescentes: aprendemos também com o de antes. Nossos pais foram mais felizes, a prova disso é que eles não precisavam de tantas comédias românticas que ensinassem a eles o valor daquilo que, agora, é estranho e esquisito para nós. Ah, l'amour... suspiros, reticências, mais suspiros, reticências. Tudo isso, de fato, pertence ao plano atual da retórica esquiva: na matemática da vida, 1+1 é sempre = 1 inteiro. Infelizmente não é todo mundo que tem esse cálculo na sua grade curricular)

(Por isso campeón, não peço entendimento, peço espaço. Menos pressa na hora de julgar os outros e caldo de galinha não faz mal a ninguém. Tens toda essa bagagem, todos esses livros e esse monte de gente que já morreu. Já dos meus papéis, fiz fogueira: filho da pedra gelada, precisava de lume para me aquecer. Mesmo sem Saturno (ainda), recomendo-te a mesma coisa: fogo é luz que pode te mostrar o caminho para fora do umbigo)

(Menos prozac, mais presente. Não somos tão inteligentes assim. Título se pendura na parede, não no peito, que machuca. Passaremos longos anos vendendo no atacado nosso "tesouro" para trocar pela esmola de um bem-querer: isso de ser só é fácil quando se é pouco. Vem o dia que queremos mel, e para isso, trabalho em equipe: colméia. Não venda barato teu ferrão, guarde-o para tua abelha rainha)

(auf Wiedersehen Meister)

2 Comentar?:

Lôra Flor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Glayce Santos disse...

Concordo com a Joyse!
O pecar é ruim, mas todos acabam o fazendo. O gd barato é: Saber que peca e tentar mudar!
Beijos