anti-mimimi


estamos doentes, todo mundo sabe disso. pai violenta a filha, o carro passa por cima do cachorro, a rua que é o lugar do público é outdoor do banal. todo mundo ri, todo mundo acha graça de alguma coisa, mas fechado em casa, sente o peso opressivo da verdade de estar sozinho. tá todo mundo sozinho porque ninguém tem coragem saber ficar só, e acaba buscando o que não tem em quem já não tinha nada para oferecer. é tudo rápido, é tudo facinho facinho. ninguém se liga, ninguém manda oi, camisinha virou item obrigatório em todo contato social, porque contato hoje em dia significa trocar fluído e não mais que isso. todo mundo se come, ninguém dorme. todo mundo fica acordado de noite, cansado de dia, cansado da vida. uns se jogam na frente de trens, outros atiram os corações para cima para ver no que dá. tá todo mundo assim, tá todo mundo pela metade. é todo mundo regra, procurando pela exceção.

falo do mundo porque é nele que pensei hoje. o mundo. séculos atrás o mundo era um quintal menor, hoje em dia ele é redondo, que é sinônimo do infinito. para constatar isso, basta caminhar: dá sempre no mesmo lugar. o que mudou foi nossa forma de dizer o que a gente não entende bem. hoje tem ciência escorrendo da lava-loiça, lavando o resto de comida do século que passou. ciência sempre vai ser isso meu bem, ela sempre vai lavar a roupa suja do mundo. ficou doente? toma pílula. ficou grávida? toma pílula. ficou triste? toma pílula. ficou com alguém? toma pílula para não ter que tomar a outra pílula que já falei. para não tomar resolução a gente toma medicação. e assim a gente vai tomando... tomando...

o totem hoje é de aço, vidro e tem fios por dentro que deixa tudo aparentemente mais colorido. bonito pros olhos, mas os ícones modernos são o inverso de Platão: são despojados de qualquer universalismo. há quem diga que esse é o preço da cultura, há que diga que desencantar é natural no processo de ficar sabido. mas quando se olha para o lado se vê que a gente sabida é a mais doente. sinceramente é difícil de entender a sabedoria em se ser infeliz.

não é o caso de jogar tudo para o alto, junto com o coração. não é o caso de começar a fazer o cumê no fogo e amarrar o Bartolomeu Bueno lá na praça da Sé. não. tem algo de errado acontecendo sim. tá todo mundo doente, e um sinal disso é esse riso frouxo com tudo que parece diferente. riem sapiens, o homo. céus, com que moral se ri dos de ontem? "a mesma mão que segurava a clava é que a aperta botões e lança mísseis". selvagens? onde? aqui?

tá todo mundo dodói. a cabeça vai mal, o coração tá pior. não tá tudo bem, tá obrigado, mesmo. mais se sobrevive-se do que se vive de fato. e aí? e agora Joseph?

sei que tá esperando, mas não, a história de hoje não tem conclusão. por que? perca de tempo dizer. você sabe muito bem o que tá errado não sabe? você lembra do que fez e do que não fez. você acorda todos os dias mais espertinho(a) do que no dia passado, então, para que ficar te lembrando das coisas? quer primavera, formiguinha? trabalhe que o inverno passa mais rápido. passa a mão no telefone, liga para aquele coração, pega naquela mão ou simplesmente não faça tudo isso consciente de que é a melhor forma que tem de respeitar aquele alguém. na vida determinadas coisas não tem remédio: pá, pum, morreu papai. agora, uma boa dieta e exercícios, dizem, ajuda a fazer o bem. ajuda, porque quem faz é você.

poupemo-nos do mimimi e do xorôrô. quando te ligar, responde. se não ligar, manda um oi mesmo assim, que gostar é o exercício da teimosia do coração tranquilo. vai lá fia, LUTE! o resto a vida se encarrega, possas crer nisso.

depois de fazer isso, dá uma ligadinha e me fala se não acordou BEM melhor no outro dia.

xêro

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Lôra Flor disse...
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