Duas Luas



sonhos. eu não consigo imaginar um lugar melhor para estar na vida, em muitos momentos. tem quem pregue a ditadura do real e não sabe o que seja o real. o real é água, peixinho. mas eu gosto de lembrar que até peixe tem asa, logo, nada na vida é tão estático assim.

eu tive um sonho, e não foi só eu. sonhei com duas luas em um céu azul, e elas dançavam na minha frente. sempre tive sonhos assim. sempre sonhei com mundos distantas, de céu laranja, construções imensas, erguidas no ar. já sonhei com lugares tenebrosos, com criaturas animalizadas, mas carentes de muito amor. já sonhei contigo, e até com ela sonhei, mais de uma vez. já sonhei sonhos que antecipavam o futuro. já sonhei com pessoas me ajudando a desenhar uma letra difícil no papel. sonhei que falava línguas mortas, sonhei com pessoas mortas falando um linguagem viva como o fogo. tive sonhos em forma de avisos, tive outros em forma de carícia e abraço. tive sonhos eróticos, e outros singelos, em forma de coração.

mas esse sonho não foi só meu, e por isso eu senti algo estranho nele. não sabia explicar, nem aquela pessoa que sonho comigo também não, mas ficamos juntos tentando entender as luas, duas, no mesmo céu. e fomos obrigado a concluir coisas gigantescas, cheias da magia dos calendários antigos. essa pessoa não é sangue do meu sangue, mas é alma da minha alma. é aquela gente que você encontra na vida, sorri e que diz "oi irmão" e tudo volta a fazer sentido, a roda da vida volta pro seu eixo, e o corpo de carne abre janela pro espírito que acena lá de dentro e convida a entrar. ela entrou, e tá aqui. e quando ela disse "sonhei" e me falou das luas no céu, que dançou com elas também, o que mais eu podia pensar que algo grande ia acontecer?

duas luas no céu é o anúncio do absurdo que entra em órbita, é a chegada de um tempo onde tudo vai perder o sentido pequeno e vai se banhar no mar de peixe velho e sabido. esse alinhar começa contigo e comigo, com ela e com ele, com as nossas histórias, suando e expelindo tudo de ruim para agora respirar perdão e tudo tá bem. mas isso não para em mim, nem em ela, é compromisso de todo mundo. é como se santo agostinho lá de cima risse para todos nós do alto de sua fé, e desepejasse raios de novas formas de ver a vida. se podemos ter duas luas, porque não podemos ter corpo e espírito, duas realidades do mesmo ser no mesmo céu de uma existência estrelada de amor, compreensão e fim de semana juntinho? se a vida tá dando o gato em astrônomo, que é amigo da matemática, porque não daria também no filósofo e no pensador que é filho da incerteza e do nada sei? meu corpo, teu espírito, teu espírito no meu corpo, tua presença quente a palpitar cada linha do que escrevo e chamo minha vida. a morte do ego, a era da persona. do partilhar, do viver. a lua ficou esse tempo todo sozinha no céu, e todo mundo achava que era porque era namorada do sol. agora veio poesia e sonho e tudo ganha um novo sentido, porque na verdade, seu amor voltou, para a frustração da matemática dos caretas.

duas luas sou eu e você meu bem, brilhando no céu de uma nova amizade. é o amor renovado pela dor, tempo e saudade de falar besteira junto. duas luas é a certeza que noite agora não é mais desculpa para ficar no escuro. duas luas é oportunidade dupla, de reencontro, de certeza que apesar de parecer que vagamos astros solitários na órbita do que foi mal-dito, tudo no universo gira, até ele mesmo gira, o que acaba colocando as coisas novas em lugares novos junto com os novos pensares e formas mais serenas de dar pirueta, que não deixa ninguém tonto.

duas luas é o tempo que chega pra mim, pra ti, pra ele, pra ela. loop do fiat lux pra nos lembrar o quão poderosa são as forças que pairam sobre e em nós.

duas luas, porque o impossível é nada.

1 Comentar?:

Lôra Flor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.